Criado em 21/04/2023 23:11
11 min read
Minha primeira corrida de 10km
Hoje eu corri a prova de Tiradentes, em Maringá, PR - Brasil. Eu não estava 100%, mas estava inspirado em dar o meu melhor.
Corrida nunca foi um hobby para mim, e talvez ainda não seja. Eu não acordo pensando: "wow, como eu quero sair pra correr hoje!". O que eu gosto de fazer é jogar bola. Porém, aprendi desde cedo que é importante praticar atividades que nos tiram da zona de conforto, fazer coisas que não gostamos de fazer. Porque dessa forma, na minha opinião, aprendemos muito sobre como a vida é e o quão é importante viver cada momento. Então, porque não começar a praticar corrida?
Prova Rústica Tiradentes 2023
Eu nunca tinha corrido uma prova de 10km, parecia uma distância absurda, e eu não estava preparado fisicamente e muito menos mentalmente. Foram mais de 6 mil candidatos e a minha meta era terminar a prova no top 1000. O meu objetivo de tempo era fazer menos do que 50 minutos.
Preparação
Eu nunca fui de fazer treinos guiados por um treinador, sempre montei os treinos baseados nos treinos de amigos e usando a internet. Dessa forma, a última semana de preparação começou no domingo, a prova seria na sexta-feira. Eu estava muito preocupado em não aguentar correr os 10km.
No domingo, meu treino era correr 12km. Era um dia de sol e eu saí para correr em uma estrada rural, tinha várias subidas e algumas descidas durante o percurso, mas nada muito íngrime, porém algumas subidas eram razoavelmente longas. Finalizei o treino em cerca de 1h01m, um pace médio maior do que 5, ou seja, para atingir meu objetivo eu precisava correr em um tempo menor do que esse. Na minha cabeça, eu fiquei satisfeito e feliz com o resultado, apesar de não ter atingido a meta. A tarde eu fui jogar bola.
Na segunda-feira, acordei exausto, com muita tontura e mal-estar. Pesquisei o que poderia ser, e o que eu encontrei era que poderia ser problemas de hidratação e muito esforço físico. Nesse dia fiz apenas um treino de peito e ombro na academia.
Geralmente, o dia mais legal da semana são as terças-feira. De manhã, por volta das 6h30 eu fiz um trote de 2km no parque (era um dia mais frio do que o normal) para aquecer e depois dei 10 tiros de 400m. O pace médio desses 10 tiros ficaram por volta de 3m55s, um excelente tempo, dado que o meu objetivo era um pace de 4min. No horário do almoço eu fui para a academia treinar costas e bíceps, e a noite jogar bola. Na minha cabeça, nesse momento eu já estou no meu limite de esforço físico.
Na quarta-feira, na agenda eu tinha marcado uma corrida 5km às 6h00, porém por conta da minha exaustão do dia anterior acabei falhando nesse treino. Apesar de não ter ido correr, eu sabia que não poderia deixar de treinar, então coloquei como meta fazer na quinta-feira. Eu deveria descansar na quinta-feira pelo fato da prova ser na sexta-feira, mas a responsabilidade era toda minha, então eu não tinha desculpas para dar. Na quarta-feira, no horário de almoço, fiz um treino de pernas.
Na quinta-feira, um dia antes da prova, eu acordei muito dolorido por conta dos dias anteriores, e eu ainda precisava fazer aquela corrida de 5km que tinha falhado. Logo pensei: "Tô ferrado pra prova amanhã, vou estar cansado e não vou conseguir correr ela inteira". Nesse dia, às 6h00, eu fui correr na esteira os 5km e encontrei um senhor procurando lixo do lado de fora do prédio. Eu estava muito dolorido, estava correndo super devagar e depois de ver essa cena eu pensei: "Cara, eu não posso reclamar de nada, a minha vida é muito fácil. As dores que eu estou sentido nem se compara com as dificuldades de acordar de madrugada para procurar restos que outras pessoas deixaram no lixo". Talvez aquele senhor seja feliz com o trabalho dele, porém vendo a cena em terceira pessoa, não é isso que o aparenta ser. Continuei pensando nisso e com certeza eu levaria essa cena para a corrida, porque esse é o combustível que eu uso para vencer eu mesmo. Finalizei o treino da manhã. No horário de almoço fiz supino e elevação lateral. Nesse dia fui dormir cedo para recuperar o máximo possível para o dia da prova.
O grande dia
Na sexta-feira, às 5h00 da manhã, acordei quebrado. Dores nas pernas e dores na parte superior do corpo. Além disso eu estava ansioso para a prova, ansiedade e tensão consomem muita energia. Fiz um café da manhã caprichado e comi tanto que agora a minha preocupação era não ter tempo suficiente para fazer digestão. Às 7h00 da manhã, eu e meu irmão fomos até o local da prova correndo bem de leve, para aquecer.
Eu estava muito longe de ser um dos melhores corredores da prova, tinha plena consciência disso. O meu objetivo para essa prova era derrotar o meu melhor tempo, que até então era 10km em 49 minutos. A ideia da minha corrida era seguir o que eu tinha lido no excelente livro do David Goggins - Nada pode me ferir, em que ele conta sobre as dificuldades que ele passou durante a infância até ele se tornar um Navy Seal's e conseguir diversos outros feitos excepcionais. A ideia se baseia em começar a prova devagar, de forma que você gaste pouca energia no início e vá gastando mais energia conforme a prova vai se encaminhando para o fim. Entenda o termo "gastar energia" como sendo o seu ritmo durante a prova, quanto mais rápido você corre, mais energia você gasta, e vice-versa. Porque isso? Geralmente, o início da prova é um dos momentos mais emocionantes de todo o percurso. Todo mundo está animado, e com toda essa animação, você tem muita energia para gastar, e a consequência disso é que você acaba começando rápido demais. A partir disso, se o seu início é muito "afobado", rapidamente você começa a perder o fôlego e com isso, a prova começa a se tornar um pesadelo logo no primeiro terço dela. Estou falando tudo isso como sendo um amador, alguém que têm pouca experiência no assunto, posso estar completamente errado. Porém do que eu li e do que eu vivi até então, esse comportamento parece fazer total sentido.
Além disso, no livro do David Goggins, ele diz sobre roubar almas do seu adversário, o que isso significa? Parece algo maldoso sendo que na verdade é apenas uma estratégia mental que ele usa durante as suas provas. Se você guarda energia para usar em momentos específicos da prova, você consegue ultrapassar seus adversários enquanto eles estão totalmente enfraquecidos tentando vencer eles mesmos. Todas essas ultrapassagens te dão forças para continuar bem na prova, e aí vem o termo "roubar almas". Durante uma prova de corrida, ninguém quer ser ultrapassado, porém em certos momentos você não vê outra alternativa além de deixar de ser ultrapassado pelo seu adversário. Nesse momento, você "perde sua alma" para você mesmo, e isso te consome muita energia. Dependendo do seu cenário, acaba sendo muito difícil voltar a competir contra você mesmo. É aí que entra o jogo mental. Para deixar claro, essas estratégias não são para desmerecer ou desrespeitar o seu adversário, são apenas formas de você conseguir dar o seu melhor durante a prova. Muito pelo contrário, precisamos respeitar e ficar orgulhosos dos feitos de cada pessoa que consegue completar a prova, desde o primeiro colocado pela vitória até o último colocado por ter conseguido finalizar o trajeto. Só que fez a prova sabe das dificuldades que foi.
A prova começou bem tranquila, todo mundo muito motivado a dar o seu melhor. A minha estratégia e os meus objetivos estavam claros. Eu ia segurar um pouco nas descidas e roubar almas na subida, ia fazer isso até finalizar todo o percurso. Eu não ia ganhar a prova, meu objetivo era top 1000 e terminar a prova com menos de 50 minutos. Tinha plena consciência de que meu preparo físico não estava pronto para fazer a prova em menos de 40 minutos. Temos que aceitar os nossos limites, se é que existe limite. Eu ainda não tinha feito o percurso da prova, esse foi um dos meus maiores erros, porque é muito fácil subestimar um percurso sem tê-lo feito. Porém, por conta de amigos que já tinham feito esse percurso, eu sabia que tinha muita subida e consequentemente, algumas descidas.
Do 1° até o 4° quilômetro, o percuso nada mais é do que uma volta no parque. O 1° quilômetro era só descida, eu consegui ganhar muitas posições porque tinha muita gente aglomerada correndo, isso atrapalha um pouco o ritmo da prova, e eu sabia que aquele ritmo estava muito devagar, então eu tinha energia para ir um pouco mais rápido. Do 2° até o 4° quilômetro, começaram as subidas, e nesse momento muitas pessoas começam a ficar ofegantes, dando indícios de que estavam começando a ficarem cansadas. E como a minha estratégia era ir devagar na descida e ganhar força na subida, eu consegui ultrapassar muita gente nesse tempo, apesar de ainda segurar o ritmo, dado que não estava nem na metade da prova. Passei do quarto para o 5° quilômetro por volta dos 22 minutos de prova, porém na minha cabeça eu já estava no 5° quilômetro, ou seja, se eu mantivesse o ritmo, iria terminar a prova com menos de 44 minutos, um tempo que eu não imaginava que conseguiria. Eu estava motivado! No entanto, depois de mais alguns minutos correndo, eu vi a placa do 5°, isto significava que o meu tempo não estava bom, eu tinha feito 5 quilômetros por volta de 25 a 26 minutos, nesse momento eu tive a minha alma roubada. Minha energia se esgotou num piscar de olhos. É impressionante como que a nossa mente controla o nosso corpo. Há 2 minutos atrás eu estava com energia sobrando e ultrapassando muita gente, porém agora eu estava sem forças lutando para não ser ultrapassado e não roubarem ainda mais a minha alma.
Eu consegui passar dessa etapa apesar do bloqueio mental. Acho que o que me deu forças foi ver que não era só eu que estava exausto. Praticamente todos ao meu lado já estavam cansados. Era o 6°km.
O quilômetro 8 era descida em um outro parque da cidade, eu controlei a minha respiração e recuperei o folego na descida. Quando começaram as subidas novamente, eu já não tinha tanta energia sobrando, então não conseguia mais ultrapassar tantas pessoas. Logo, eu não estava mais conseguindo encontrar motivação, não conseguia pensar nada além de desistir e terminar a prova caminhando, porém fazer isso me destruiria ainda mais, ia me sentir um completo fracassado. Até que em determinado ponto da corrida, próximo ao fim, eu me deparei com um cara fazendo a prova em cima de uma cadeira de rodas adaptada. Ele estava fazendo 10km só com a força dos braços! Ver aquela cena só me fez pensar: "Cara, eu não to conseguindo correr 10km com as pernas, que é um músculo muito maior do que os braços, qual desculpa eu vou dar se eu desistir agora? Eu não tenho nada a reclamar, vou terminar essa prova na força do ódio!". Assim eu segui até o final da prova, completamente exausto. Ao ver a placa de chegada dei meu último gás e finalizei a prova com 46m43s. Eu tinha acabado de vencer eu mesmo, tinha batido meu recorde pessoal.
Os meus números da corrida foram esses:
Dados gerais
- Tempo: 46m43s
- km/h: 12.86 km/h
- Ritmo: 04m40s min/km
- Posição Geral: 456° de +-6000 participantes
- Posição Categoria: 22°/118 masculino 20 a 24 anos
Tempos parciais
Parcial | km | ritmo | tempo |
---|---|---|---|
0km - 2.3km | 2.3 | 4m54s | 11m16s |
2.3km - 5.1km | 2.8 | 4m47s | 13m24s |
5.1km - 7.5km | 2.4 | 4m22s | 10m28s |
7.5km - 10km | 2.5 | 4m38s | 11m35s |
final | 10 | 4m40s | 46m43s |
Eu ainda tenho muito a melhorar, meus amigos conseguem fazer esse percurso com menos de 40 minutos. Vou treinar incansávelmente para conseguir chegar no nível deles, eles são a minha motivação. No entanto, o que posso dizer é que a primeira meta foi batida!
Os ensinamentos que eu quero com esse texto é que para crescer na vida, precisamos abraçar os desafios e encará-los de frente. Temos que sempre estar prontos para eles, e o treino e a preparação é fundamental nesse processo. Treine sozinho, não dependa de ninguém para fazer as suas coisas, e só assim você verá o quão grande você pode se tornar. Estou escrevendo esse texto para mim mesmo, porque eu ainda não sou nada, porém vou trabalhar duro para conquistar todos os meus objetivos.
SEGUIMOS & NO DAYS OFF!